Fazer com que uma continuação consiga chamar a atenção daqueles que não gostaram do original é algo um tanto complicado. Com tantos jogos sendo lançados a todo momento, as pessoas tendem a ignorar séries que não lhe agradaram num primeiro momento e quando a Focus Interactive anunciou o The Surge 2, um dos principais objetivos era justamente mostrar que a franquia merecia uma nova chance.
Terceira tentativa da Deck13 no estilo Souls, o jogo é uma clara demonstração de como um estúdio pode aproveitar as experiências anteriores (no caso o Lords of the Fallen e o The Surge) para entregar um produto muito mais polido e divertido.
A história de The Surge 2 se passa em Jericho City, uma metrópole cercada por enormes muros e onde os moradores fazem o possível para sobreviver ao efeitos colaterais causados pelo Project UTOPIA. Iniciativa da megacorporação CREO para tentar restaurar os recursos naturais da Terra, o projeto acabou com 95% da humanidade, o que consequentemente fez com que o planeta se tornasse muito perigoso.
Mas para ser sincero, o enredo do jogo nunca achega a ser explorado da maneira como deveria e no fim das contas nos restará avançar pelos cenários enquanto procuramos itens e tentamos não ser retalhados pelos muitos inimigos que encontraremos pelo caminho.
Assim como o seu antecessor, The Surge 2 utiliza um sistema de combate onde poderemos focar numa parte específica do corpo dos adversários. Isso será de suma importância, já que assim poderemos desmembrar um inimigo ou cortar sua cabeça, com o intuito de recebermos a parte da armadura que ele estiver usando ali.
No início pode parecer complicado o sistema de mira, mas não demora até que consigamos usá-lo de maneira intuitiva e as batalhas são justamente a parte em que o jogo mais brilha. Oferecendo um bom nível de dificuldade e ameaças dos mais variados tipos, a sensação é de estarmos perigosamente explorando os labirínticos estágios de um Dark Souls, mas obviamente numa ambientação futurista.
As batalhas no game funcionam baseadas em alguns elementos típicos dos jogos do gênero: observar o padrão de movimentos dos inimigos; esquivar ou se defender dos ataques — o que agora pode ser feito escolhendo a direção correta; gerenciar a nossa barra de resistência; e escolher o melhor momento para desferir golpes. Isso será repetido durante toda a campanha, mas as recompensas obtidas após cada combate faz com que a experiência seja gratificante.
Outro ponto positivo é a possibilidade de configurarmos três conjuntos de armas e equipamentos,o que nos permitirá alterar entre eles rapidamente e estarmos melhor preparados para cada tipo de combate.
Some a isso a evolução do nosso personagem e as muitas modificações que podemos fazer nas armas e equipamentos, e aqueles que adoram testar variações encontrarão muito conteúdo no The Surge 2.
Outro ponto em que a desenvolvedora conseguiu melhorar bastante em relação ao antecessor é no design dos estágios. Contando com várias áreas mais abertas, a cidade parece muito mais viva e ainda nos oferece uma grande quantidade de caminhos e atalhos para serem desbloqueados. Eu não diria que o design de fase é tão genial quanto no primeiro Dark Souls, que por sinal ainda considero o ápice neste sentido, mas é evidente o quanto a Deck13 se aperfeiçoou nesta área e como isso deixou o The Surge 2 muito melhor de se jogar.
Também vale citar o fato de que ao morrermos teremos um tempo para recuperar as sucatas que deixamos cair. Esse sistema faz com que a tensão seja ainda maior que o normal e como ganharemos alguns segundos ao derrotarmos um inimigo, o jogo está constantemente nos incentivando a entrar em batalhas. É uma ideia simples, mas que traz alguma novidade e que faz com que a jogabilidade se torne mais frenética.
Já na parte visual eu não tenho muitos elogios a fazer ao jogo. Embora a cidade seja bonita e a movimentação dos personagens funcione da maneira adequada, mesmo num Xbox One X o The Surge 2 não chega a chamar a atenção. O que mais me decepcionou nele foram as animações faciais e as textura, que não possuem uma boa definição e dão uma cara muito lavada a quase todos os objetos.
Isso não quer dizer que o jogo seja feio, mas o coloca muito longe de outras grandes produções que alcançaram um nível mais alto de acabamento visual e a situação fica ainda pior ao percebermos que mesmo no modo desempenho — que sacrifica a qualidade visual — é possível notarmos irritantes quedas na taxa de frames.
Ainda assim, The Surge 2 mostrou-se para mim uma grata surpresa. Melhorando quase todas as ideias que a desenvolvedora tentou implementar no primeiro jogo, ele tem o mérito de ser interessante mesmo para quem não conhece a franquia ou até mesmo para quem não gostou do antecessor.
Mas acima de tudo, com este título a Deck13 finalmente conseguiu entregar um jogo com mais personalidade, uma obra com qualidades suficientes para fazer com que ele não seja conhecido apenas como uma tentativa de clonar as criações da From Software ou “um Dark Souls futurista”.