Eu gosto muito de jogos de estratégia em tempo real, mas tenho que admitir que a série Total War sempre me causou um pouco de medo. Com um nível de detalhes acima da média, encarar qualquer capítulo dela me parecia coisa pra maluco. Porém, quando recebi o convite para conhecer o Total War: Three Kingdoms, decidi que estava na hora de me aventurar com mais vontade por este tão intimidador terreno.
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Criada pela Creative Assembly e com o seu primeiro jogo tendo sido lançado no ano 2000, a série Total War se especializou em retratar alguns dos períodos mais sangrentos da história da humanidade. Das batalhas travadas por Napoleão Bonaparte aos conflitos do império romano, passando pelo Japão dos samurais e o banho de sangue causado por Átila, o Huno, ela até se aventurou pelo universo de fantasia criado pela franquia Warhammer.
Já em 2019 chegava a vez da série explorar um dos mais fascinantes períodos da China, época que durou entre 220 e 280 DC, quando o país foi dividido entre os estados de Wei, Wu e Shu. Tendo iniciado logo após o término da dinastia Han, os anos que ficaram conhecidos como os dos Três Reinos viu o jovem Xian (com apenas oito anos) assumir o posto de imperador e como ele passou a ser manipulado por um sujeito chamado Dong Zhuo, as severas regras impostas pelo general levou a população ao caos.
Diante de um reinado tão opressor, vários comandantes do exército chinês se rebelaram e caberá ao jogador assumir o controle de uma das 12 facções surgidas desta levante, com o objetivo sendo eliminar os rivais para assim unificar a China e se tornar o grande líder. Para isso intercalaremos batalhas por turnos e em tempo real, mas apesar das primeiras serem fundamentais para o sucesso, foram as segundas que mais me agradaram.
Estar no controle de mais de uma centena de unidades que se enfrentarão pelos vastos campos presentes no Total War: Three Kingdoms é uma daquelas experiências que nos dá prazer por gostar de videogames. Inicialmente eu pensei que conseguir gerenciar tudo seria uma tarefa muito complicada, mas apesar de ficarmos um pouco perdidos em confrontos maiores, geralmente há tempo para calcular os próximos passos e em último caso, basta pausar a ação para decidirmos como proceder.
Por se tratar de um jogo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo nos campos de batalhas, tinha medo que o Total War: Three Kingdoms ficasse muito pesado no meu computador. Porém, ele rodou sem grandes quedas de frames, mesmo com todas as configurações no máximo.
Já as telas de carregamento são bem longas e para contornar isso, o recomendado é fazer com que o título rode direto de um SSD.
Então, quando as batalhas começarem, o jogador estará no controle de grupos de soldados divididos por classes (infantaria, arqueiros, cavalaria, etc), cada um comandando por um general. Tais confrontos poderão ser vencidos caso todos os generais adversários sejam derrotados ou se as tropas inimigas se sentirem tão assustadas que resolvam bater em retirada.
Além disso, cada general pertence a uma classe específica, o que dará certas vantagens às suas unidades e por eles serem figuras tão importantes, contam com itens únicos que podem ser obtidos pelos rivais caso esses líderes sejam derrotados. Eles também podem entrar em confrontos contra outros generais, o que dá início a uma bacana cena de luta enquanto todo o resto se desenrola ao fundo.
Uma novidade que deverá agradar os mais experientes na série Total War é um sistema de conexões sociais para os generais, algo conhecido na China como Guanxi. Graças a ele os generais poderão se relacionar com outros personagens e dependendo da maneira como conduzirmos essa proximidade, o nível de felicidade dos líderes sofrerá alterações, o que impactará diretamente o futuro da campanha. Isso adiciona ainda mais estratégia ao jogo e faz com que tenhamos que pensar bastante antes de tomarmos alguma decisão.
O jogo ainda nos oferece duas maneiras de encarar a campanha principal, que são os modos Romance e Histórico. A diferença é que enquanto o primeiro se baseará no Romance dos Três Reinos, escrito por Luo Guanzhong, o segundo focará mais na precisão histórica. Assim, se em um teremos generais com poderes quase sobre-humanos, no outro eles não poderão ser comandados separadamente, não poderão trocar de equipamentos durante as batalhas e as unidades se cansarão mais rapidamente.
Mas se durante as lutas a ação acontece de maneira relativamente simples, o mesmo não pode ser dito do restante do jogo. A quantidade de coisas acontecendo nos bastidores enquanto não estamos acompanhando nossas tropas em campo é algo impressionante. De um sistema de espionagem que conta com seu próprio menu cheio de opções a maneira como precisamos lidar com a insatisfação dos generais, a sensação é de estarmos realmente tentando gerenciar um império, com todos os detalhes relacionados a uma tarefa tão grande.
E como em outros Total War, em Three Kingdoms ainda teremos que lidar com a diplomacia e como vencer sozinho uma guerra deste tamanho é praticamente impossível, saber quando conquistar o apoio de outras facções é tão ou até mais importante do que sair vitorioso de um cerco. A boa notícia é que com este capítulo a Creative Assembly tornou a negociação mais transparente, fazendo com que saibamos imediatamente o teremos que ceder ao propor uma união.
Ainda assim, existe outra opção além dos pactos de não-agressão e as alianças, que são as coalizões. Com elas poderemos fazer uniões que não significam uma parceria infinita e como mais de duas facções poderão participar delas, haverá votações para decidir, por exemplo, quem poderá entrar para o grupo.
Agora some a tudo isso diversas facções tomando decisões em cada turno e se perder entre tantos eventos será algo relativamente comum. De fato, encarar um jogo da série é algo que deve ser feito com paciência e sabendo que cometeremos erros bobos, principalmente no início. O Three Kingdoms até possui uma academia que, assim como o tutorial interno, visa nos ajudar e embora muitas dúvidas possam ser tiradas nos vídeos disponíveis por lá, o ideal mesmo é aprender jogando.
Portanto, de forma um tanto grosseira eu diria que a parte administrativa do Total War: Three Kingdoms é como se estivéssemos usando uma enorme (e muito bonita) planilha do Excel. Como eu nunca fui muito fã de números, não posso dizer que tenho me divertido ao gerenciar o tamanho da minha população (o que afeta diretamente a quantidade de comida) ou fazendo melhorias nas construções da cidade.
Esse cenário muda quando vamos para as batalhas e por mais que nelas não baste simplesmente mandar nossas tropas avançarem, com até a personalidade dos generais influenciando, comandar aqueles soldados na tentativa de sobreviver aos ataques dos adversários é muito mais legal do que simplesmente assistir algum filme ou série onde acompanhamos algo assim.
Por ainda estar começando nesta tão fascinante série, sei que terei um longo caminho pela frente até poder dizer que consegui dominar seus pormenores — se é que um dia isso acontecerá. Até lá, seguirei enfrentando sessões menores de jogatina, na tentativa de conseguir absorver o máximo de informação, mas sem correr o risco de fritar o cérebro.
Neste meio do caminho, talvez eu até volte minhas atenções para o Total War: Warhammer, pois já ouvi dizer que ele é mais acessível a novatos, além de ser um universo que sempre me fascinou. Ainda assim, gostei muito do que vi no Three Kingdoms e se você procura um jogo de estratégia que nos coloque no controle de quase tudo e que te fará “suar”, acho que não existe opção melhor do que a série Total War.