Lá por meados da década de 90 eu entrei numa locadora e vi na prateleira um jogo para Mega Drive que chamou minha atenção. Ele se chamava Turma da Mônica na Terra dos Monstros e sem saber exatamente como era, resolvi levá-lo para casa. Somente anos depois eu descobri que aquele título na verdade era uma versão desenvolvida pela Tectoy em cima do Wonder Boy in Monster World, mas desde o primeiro momento ficou claro o quanto aquela franquia era especial.
Funcionando como jogos de plataforma, mas com elementos de RPGs, aventurar-se pelos mundos da série é uma experiência muito bacana e quando a Artdink anunciou que estava recriando o quarto capítulo (que infelizmente nunca chegou a ser lançado para o Mega Drive no ocidente), eu fiquei muito curioso para ver como ficaria o tal Wonder Boy: Asha in Monster World.
Com o projeto sendo liderado pelo criador do original, Ryuichi Nishizawa, a expectativa era de que esta nova versão conseguisse manter muito do que tínhamos naquele título lançado há mais de 20 anos e para o bem ou para o mal, é exatamente isso o que receberemos com este remake.
Nele seremos uma garota de cabelo verde chamada Asha, que após ouvir um misterioso pedido de ajuda, sai em uma perigosa aventura e após chegar a cidade de Rapadagna, a protagonista descobrirá que quatros espíritos que protegem o seu mundo foram aprisionados, cabendo a ela salvar tais guardiões.
Pelo caminho a heroína encontrará muitos personagens interessantes, incluindo um pequeno monstro conhecido como Pepelogoo e que lhe servirá como um valioso aliado, com ele sendo aproveitado para solucionar quebra-cabeças e até permitir pulo duplo. O problema é que ao contrário dos seus antecessores, Wonder Boy: Asha in Monster World escora-se muito na simplicidade, com as fases e calabouços contando com uma estrutura muito linear e com os combates não oferecendo muita variação.
O jogo também peca ao não fornecer explicações mais claras sobre o que devemos fazer a seguir. Se isso poderia não ser um grande problema quando o original chegou ao saudoso consoles da Sega, hoje passa a sensação de um game design preguiçoso, que parece tentar aumentar a longevidade da aventura apostando mais na confusão do que em coisas realmente interessantes para se fazer.
Mas se em boa parte do projeto os envolvidos preferiram não ousar, uma adição que deverá ser bem recebida por muitas pessoas é a possibilidade de salvarmos a qualquer momento. Isso poderá evitar situações em que teríamos que repetir boa parte do progresso ou que nos obrigaria a continuar jogando apenas para encontrarmos um ponto de salvamento.
Já outro aspecto deste remake que não me agradou completamente foi a sua direção artística. Embora os gráficos sejam bastante coloridos e consigam manter a essência do original, nunca fui um grande admirador do estilo 2.5D, onde polígonos são utilizados em um jogo de plataforma em duas dimensões. Aqui obviamente estamos falando de gosto pessoal, mas para mim, o que foi feito tanto no Wonder Boy: The Dragon’s Trap quanto no Monster Boy and the Cursed Kingdom é muito mais bonito.
Eu também senti falta de um recurso que tem se tornado comum neste tipo de recriação, que é a possibilidade de alternarmos em tempo real entre os gráficos originais e os da nova versão. Na verdade, a editora responsável pelo Wonder Boy: Asha in Monster World até incluiu o Monster World IV neste relançamento, mas apenas para quem adquirir a versão física do jogo e com o original funcionando de maneira individual. Já a nova parte sonora é um espetáculo, com as novas composições de Shinichi Sakamoto soando muito mais bonitas do que aquelas presentes no cartucho e agora os diálogos são dublados (em japonês).
Com sua campanha durando cerca de cinco horas, Wonder Boy: Asha in Monster World é um jogo divertido, capaz de entreter quem gosta de jogos de plataforma e de exploração. Porém, ele não está no mesmo nível do remake do Wonder Boy III e muito menos no do fantástico Monster Boy and the Cursed Kingdom. Vale para quem gostaria de conhecer este capítulo mais obscuro da franquia, mas desde que você não o encare com uma expectativa tão alta quanto eu tinha.