Eu sei que boa parte dos fãs de FPSs não dão a menor importância às suas campanhas single-player, mas desde o primeiro Call of Duty a minha maior curiosidade por novos capítulos recai justamente neste modo. Então, ao saber que o Modern Warfare II serviria como o início de uma nova era para a franquia, estava bastante empolgado para ver o que o pessoal da Infinity Ward havia preparado.
Servindo como continuação do reboot lançado em 2019, o jogo novamente nos coloca no comando de membros das forças especiais da Grã-Bretanha, a Special Air Service (SAS). Cooperando com agentes de outros países, caberá ao grupo encontrar um perigoso terrorista, o que nos levará a missões em várias regiões do mundo.
A campanha do Call of Duty: Modern Warfare II inicia em julho de 2022, quando o grupo que responde pelo nome Força-Tarefa 141 tem como ordem realizar um ataque contra iranianos que estão sendo apoiadas pelos russos. O objetivo é eliminar o general Ghorbrani durante uma negociação de armas em Al Mazrah e para isso eles usaram armamaento (bastante) pesado.
Deixando claro toda a pirotecnia que estará por vir, a primeira missão que encararemos termina de maneira apoteótica, mostrando que quando se trata de entregar “um bom filme de ação”, o estúdio responsável por este capítulo da franquia sabe muito bem o que está fazendo.
Ao todo teremos 17 missões (ou fases) à nossa disposição, algumas delas podendo ser consideradas fantásticas, outras nem tantos. De eliminar todo um batalhão inimigo a distância enquanto utilizamos um poderoso rifle (preferencialmente sem sermos detectados) até abrir caminho mandando um helicóptero fazer o trabalho sujo enquanto nos protegemos, a variedade de ações presente no jogo ajuda a fazer com que o tempo passe voando, com a campanha deixando aquele gostinho de que poderia ser maior.
Porém, com essa tentativa de entregar inovação vieram algumas situações que poderão desagradar os mais famintos por tiros, porradas e bombas. Como exemplo, posso citar partes em que estaremos desarmados, quando seremos obrigados a nos esgueirar por entre os inimigos ou procurar itens para criarmos uma arma branca ou bombas de fumaça.
Ao lado de uma missão em que precisaremos passar despercebidos por patrulhas inimigas enquanto nos camuflamos no mato, você provavelmente precisará repetir essas partes algumas vezes, já que dependendo do nível de dificuldade que tiver escolhido, não haverá muito espaço para erros.
Outra missão do Call of Duty: Modern Warfare II em que perdi um bom tempo só porque seguia morrendo foi na perseguição na estrada. Com o nosso personagem tendo que trocar de veículos de tempos em tempos, a situação se torna crítica quando minas começam a ser jogadas no caminho e “gerenciar” tudo o que está acontecendo ao nosso redor acaba não sendo muito divertido.
Ainda assim, para cada trecho em que o jogo me deixou descontente, fui presenteado com um ou outros dois que me fizeram sentir como se estivesse participando de algo realmente grandioso, que só vi em boas histórias ou filmes. Invadir uma prisão, lutar na fronteira do México com os Estados Unidos, entrar em uma plataforma de petróleo durante uma forte tempestade… O que não falta neste CoD são passagens memoráveis.
(Pobres) irmãos de armas
Porém, quando se trata de aproveitar os muitos personagens com os quais teremos contato, infelizmente os roteiristas da Infinity Ward não conseguiram lhes dar a profundidade que mereciam. A maneira como a relação entre eles se desenrola parece muito forçada, com um sempre precisando elogiar as ações dos outros, dando origem a diálogos pouco naturais e até mesmo um tanto vexatórios.
Embora as exageradas apresentações e descrições das personalidades seja uma forma do título nos explicar o quão competentes são aqueles soldados, o recurso não deixa de passar uma sensação de preguiça, um atalho encontrado por aqueles que queriam contar a história.
Para ser sincero, durante boa parte do tempo eu estava mais preocupado em salvar minha cabeça do que me empolgar com a camaradagem militar típica da ficção norte-americana. Talvez por isso os elogios do capitão John Price tenham me empolgado muito menos do que os disparos que acertei a mais de 400m quando estava na pele do sargento Kyle “Gaz” Garrick. Talvez por isso eu não tenha me sentido lisonjeado enquanto o tenente Simon “Ghost” Riley tentava me motivar e os tiros passavam zunindo pela orelha de John “Soap” MacTavish.
Mas apesar da maneira um tanto superficial como o jogo tenta criar um laço de fraternidade e companheiros entre os personagens, consegui me sentir como parte daquela equipe, como se a vida de cada um deles dependesse diretamente de quem estava ao seu lado. Eu também gostei da adição do major Rodolfo “Rudy” Parra e principalmente, do coronel Alejandro Vargas, mexicanos habituados a lidar com os cartéis e que terão papel fundamental na conclusão do objetivo principal.
Uma nova era para a guerra
Usando a IW 9.0, engine que foi desenvolvida através de uma parceria entre a Infinity Ward, a Treyarch e a Sledgehammer Games, o Call of Duty: Modern Warfare II traz uma série de melhorias que se tornarão padrão para a série. Entre elas temos um novo e aperfeiçoado sistema de áudio, uma nova simulação de água e principalmente, uma inteligência artificial mais precisa.
Outro ponto que se beneficiou do novo kit de desenvolvimento foi os gráficos, com o título chamando a atenção já nos primeiros momentos pela qualidade das imagens e proximidade com a realidade. Durante a campanha, não foram poucos os momentos em que fiquei boquiaberto com o nível de detalhes presente nos cenários, sendo que alguns dos mapas são imensos, mas nem por isso menos bonitos.
De todos, talvez o principal destaque vá para a missão que se passa na cidade de Amsterdam, algo digno de confundir qualquer pessoa menos familiarizada com videogames. Porém, isso também vale para as casas localizadas quando atravessamos a fronteira ou quando chegamos a Chicago. A dedicação dos artistas da desenvolvedora para entregar cenários realista é algo que merece todos os elogios.
Contudo, o ponto negativo da parte visual ainda recai nos personagens, que muitas vezes destoam do que está ao seu redor. Não que eles sejam malfeitos, mas ainda falta um pouco para os humanos virtuais da série alcançarem o nível de realismo do cenário. Curiosamente, estamos falando de algumas das animações faciais mais naturais que já vi em um jogo, o que só reforça o quanto o restante dos gráficos está num patamar altíssimo.
Menos reflexões, mais ações
Embora tenha visto algumas pessoas criticando a abordagem simplista que o Call of Duty: Modern Warfare II faz a temas bastante delicados, como, por exemplo, quando a Shadow Company chacina vários civis no México, não serei piegas a ponto de reclamar de sua campanha por causa disso. Para mim, a série sempre foi sobre nos colocar em situações repletas de ação, nos fazer sentir como seria passar por situações de vida ou morte.
Alguns poderão dizer que isso não passa de uma glorificação à guerra, uma ode à crimes que são cometidos diariamente em diversas zonas de conflito. Mas mesmo acreditando que tais acusações tenham alguma razão, ainda enxergo os Call of Duty como mero entretenimento descerebrado, algo não muito diferente de um filme do Rambo ou protagonizado por qualquer outro herói de ação plasticamente fabricado.
Pode ser que um dia em mude de opinião e até passe a abominar jogos assim. Por enquanto, só quero sentir a adrenalina proporcionada pelas campanhas de alguns FPSs e nesse aspecto, por mais que a do Modern Warfare II derrape em alguns pontos, ela conseguiu me divertir bastante.