Até por respeito às pessoas envolvidas na produção, algo que eu nunca gostei de fazer é análise de jogos que não me agradaram. Porém, em se tratando do Rainbow Cotton, eu não nunca conseguirei esconder minha decepção com o remake desenvolvido pela Kritzelkratz 3000.

Lançado originalmente para o Dreamcast, Rainbow Cotton foi o quinto capítulo da franquia de Cute ‘em Ups, ou seja, “jogos de navinha” com temática e gráficos fofinhos. Porém, enquanto os anteriores entregavam uma visão lateral, esse apostava num estilo bem diferente, funcionando como um Rail Shootter.

Rainbow Cotton

Crédito: Divulgação/ININ Games

Desta forma, ao chegar no último console da Sega, o título oferecia uma jogabilidade mais parecida com o que tínhamos em jogos como Space Harrier, Panzer Dragoon ou Star Fox. Mas se na teoria isso parecia benéfico, na prática se mostrou uma ideia muito mal aproveitada.

Aqui vale um esclarecimento: por mais que eu seja um apaixonado pelo Dreamcast, nunca tive as a oportunidade de experimentar o Rainbow Cotton e por isso via essa nova versão como uma ótima maneira de corrigir essa falha. Mas eu estava errado.

Embora eu precise elogiar a tentativa de tornar o jogo mais acessível, afinal essa é a primeira vez que ele aparece localizado em inglês (com dublagem em japonês), restam poucos motivos para comemorar esse resgate da franquia.

Rainbow Cotton

Crédito: Divulgação/ININ Games

Para começar, o maior problema de Rainbow Cotton está mesmo na mudança para as três dimensões. Como muitas desenvolvedoras fizeram na época, a Success também optou por deixar o 2D de lado, provavelmente por medo de parecer ultrapassada, mas com esse jogo fica claro que o estúdio não estava preparado.

Da lenta movimentação da protagonista até o fato dela ocupar muito espaço na tela, ambos os problemas tornam difícil saber exatamente quais disparos nos atingirão e a sensação é de que estamos quase sempre a bordo de um veículo descontrolando em alta velocidade.

Some a isso o fato de que a nossa mira só poderá ser movida com a personagem e a decisão entre mirar nos inimigos ou tentar desviar de seus ataques muitas vezes se mostrará injusta e bastante irritante.

Mas além de uma dificuldade artificialmente criada, torna-se complicado defender um jogo vendido como um remake, mas que não traz melhoras na qualidade de vida que se adequem a um mundo muito diferente daquele em que vivíamos quando o original foi lançado.

Crédito: Divulgação/ININ Games

Por exemplo, aqui não teremos a opção de salvar nosso progresso e contaremos apenas com cinco vidas para toda a campanha — que traz apenas cinco estágios, vale citar. Assim, se você for derrotado, terá que voltar para o início do estágio e caso perca todas as chances, não terá outra opção que não seja reiniciar a aventura.

Além disso, me incomodou a falta de um tutorial, já que esse Rainbow Cotton não nos explica nem para que serve cada botão do controle. Por ser um jogador das antigas, aprender na base da tentativa e erro não deveria ser um problema, mas mesmo não gostando de jogos que nos carregam pela mão, a verdade é que não tenho mais paciência para ficar tentando adivinhar as mecânicas de um título.

Aqui também não devemos esperar algo parecido com um museu, recurso que considero tão bacana nessas restaurações e que serve para conhecermos mais sobre os clássicos. A única forma de prestigiar o passado será experimentando a versão original do jogo, com filtros.

Crédito: Divulgação/ININ Games

Quanto a parte visual, gostei do trabalho realizado nessa nova versão. Embora o jogo em nada se assemelhe ao que tem sido lançado atualmente em termos de qualidade técnica, os gráficos são bonitos, bastante coloridos e conseguem passar bem a atmosfera que tínhamos na época em que a série ainda se mantinha em duas dimensões.

Quando fiquei sabendo que os aparelhos mais modernos receberiam um Rainbow Cotton repaginado, fiquei empolgado com a possibilidade de conhecer um dos títulos que fugiram do meu radar na época do Dreamcast. Contudo, mesmo louvando o pessoal da ININ Games por apostar nesse projeto, lamento por os envolvidos não terem ido além de apenas implementar legendas em inglês e nos oferecer gráficos mais limpos.

É triste admitir, mas eu comecei essa jogatina esperando um colorido Panzer Dragoon estrelado por uma bruxinha voando numa vassoura, mas acabei com o gosto de algodão-doce estragado na boca.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.