Houve uma época em que as desenvolvedoras de games nem sequer sonhavam com a independência. Presos as editoras, os estúdios dependiam do dinheiro fornecido pelos gigantes para dar vida aos seus projetos e com isso viam a sua criatividade ser limitada por aqueles que controlavam a grana.
Foi então que surgiu o que gosto de chamar de Primavera Indie, que foi quando — muito motivados pela distribuição digital (e depois pelo financiamento coletivo) — diversos profissionais perceberam que poderiam se soltar das amarras impostas pelas editoras e dar vida as ideias mais malucas que possuíam.
Essa mudança de postura fez com que diversos gêneros que andavam esquecidos retornassem e muitos jogos interessantes pudessem ser criados. Dentre eles, o último a chamar a minha atenção atende pelo nome Stone Story RPG. Com o seu desenvolvimento tendo iniciado lá em 2014, recentemente o jogo chegou ao Steam como em Acesso Antecipado e neste post eu gostaria de explicar porque estou apaixonado por ele.
No jogo teremos como objetivo assumir o papel de um herói sem nome, que acorda em uma terra desconhecida e que precisará descobrir o que está acontecendo no lugar. Sem armas ou maiores habilidades, caberá ao jogador decidir como e para onde prosseguir, num processo de tentativa e erro que poderia ser desanimador, mas que funciona muito bem.
O ponto mais interessante (e controverso) da jogabilidade de Stone Story RPG é o fato de não estarmos totalmente no controle do protagonista, já que durante as fases ele se move sozinho e podemos apenas escolher os itens que ele carregará. Por exemplo, se você quer que o personagem corte uma árvore, basta lhe dar um machado. Se quer que ele quebre montes de pedra, coloque uma pá em sua mão. E assim por diante.
Embora pareça e de fato seja um tanto simples, essa mecânica consegue trazer um ar de novidade ao gênero RPG e como precisamos escolher os itens constantemente, o jogo nunca se torna apenas uma grande animação onde não participamos das ações.
É verdade que a troca de itens poderia ser facilitada, nos dando a possibilidade de deixar alguns deles numa barra de acesso rápido e agilizando as ações. Se um atalho assim existisse não teríamos que entrar no inventário a todo momento, o que quebra a dinâmica do jogo e com o tempo até se torna maçante.
Para que voc6e possa entender melhor, abaixo deixo um vídeo que gravei com os primeiros 45 minutos do Stone Story RPG. Confira!
No entanto, o que poderá afastar algumas pessoas é justamente aquilo que considero o ápice de Stone Story RPG, a sua direção artística. Totalmente feito no estilo ASCII (sigla para American Standard Code for Information Interchange), a impressão é de estarmos vendo um jogo feito para computadores lá do final da década de 70 ou início da década 80, sem que nenhuma imagem seja mostrada.
Isso quer dizer que cada objeto do jogo, cada parte do cenário ou mesmos os personagens são feitos apenas com caracteres e se algo assim já parece fascinante em imagens paradas, espere para ver o Stone Story RPG em movimento. Das nuvens no céu a água num rio, passando pelos monstros que encontramos pelo caminho ou nos golpes desferidos pelo protagonista, tudo no jogo é mostrado de maneira muito natural, mesmo sendo feito apenas por um monte de letras e símbolos.
Some a isso uma trilha sonora muito legal, que remete aos primórdios dos games e que consegue empolgar quando precisa, e temos aqui um jogo muito acima da média, mesmo com ele ainda estando em desenvolvimento e precisando de mais conteúdo.
Portanto, Stone Story RPG é um exemplo claro de como os jogadores deveriam agradecer por a indústria de games ter se aberto aos desenvolvedores independentes. Ou vai me dizer que você acredita que algo com essas características poderia ter sido lançado para um Super Nintendo, um SEGA Saturn ou um PlayStation 2?