Lá se vai quase um ano desde que “O Evento” destruiu a Terra. Buracos cujo fundo não conseguimos enxergar abriram-se em todos os lugares, a comida é escassa, corpos estão empilhados pelas ruas, não há energia elétrica, água encanada e o mais importante, a civilização como a conhecíamos não existe mais. Agora a ordem é tentar permanecer vivo e os mais fortes, é claro, levam vantagem.
Ao contrário do que víamos em filmes e videogames pós-apocalípticos, no mundo real não temos mortos-vivos vagando por aí, nem monstros querendo nossa carne. A real ameaça são os outros seres humanos e como era de se esperar, os poucos sobreviventes não gostam da presença de estranhos e por isso preciso tomar todo o cuidado, pois é difícil saber quem realmente é amistoso.
Depois de centenas de quilômetros percorridos, posso dizer seguramente que minha viagem foi dura, mas ao chegar em Haventown a situação deverá piorar muito. Nunca imaginei que estar em uma grande cidade deserta poderia ser algo tão opressor e não posso desconsiderar que nunca disparei um tiro contra alguém, além do fato da minha pistola estar vazia, mas o que me conforta é que mais ninguém sabe disso, então não acredito que possíveis ameaças arriscariam me enfrentar para descobrir se estou blefando ou não.
Mas não posso me deixar abater. Apesar dos grandes prédios em ruínas serem assustadores, minhas habilidades de escalada foram de grande valia no caminho atá aqui e mais do que desejar um bom banho quente ou um lugar seguro para dormir, preciso encontrar minha esposa e filha e se eu não acreditasse que eles estão vivas, não conseguiria ter chegado tão longe. Mesmo assim, convenhamos, lá se vai quase um ano desde que “O Evento” destruiu a Terra…
***
Tudo o que você leu acima não foi uma invenção minha, apenas uma maneira que encontrei de descrever um pouco do que tenho vivido no I Am Alive, título vendido digitalmente para o Xbox 360 e que em breve chegará ao Playstation 3.
O jogo lançado pela Ubisoft semana passada conseguiu atraiu a atenção de muita gente quando foi anunciado em 2008 e desde então a produção passou por inúmeras dificuldades, tendo sido adiada diversas vezes, mudado de desenvolvedora e deixando de ser um game promissor que seria vendido fisicamente para adotar a dúbia venda apenas pela rede online dos consoles.
Essa incerteza durou até que um dia antes da sua liberação diversos sites na web publicaram suas análises e enquanto vários encheram o game de elogios, alguns não pouparam críticas, o que deixou muitos de nós com mais dúvidas e depois de passar algumas horas na aventura, o que posso lhe dizer é que se você se interessou pelo relato acima, I Am Alive é um jogo que provavelmente lhe agradará.
Graficamente ele não está no mesmo patamar de grandes produções, sua mecânica possui algumas peculiaridade (não gostaria de chamá-las de falhas por achar que tornam a experiência mais realista) que podem incomodar, como as batalhas que basicamente se resumem a tentativa e erro e o sistema que nos dá apenas algumas chances até que tenhamos que voltar a distantes pontos de salvamento podem ser bastante irritantes, mas considero o jogo com alguns conceitos tão legais que todos os seus problemas estão sendo ignorados tranquilamente.
Talvez eu esteja me deixando encantar pela oportunidade de encarar algo que sempre desejei, um jogo onde o ponto principal é tentar sobreviver em um mundo devastado por um desastre natural, controlando um sujeito normal sem super poderes e que só quer encontrar as pessoas que ama. Seja como for, jogá-lo está longe de ser um sacrifício e além da narrativa que considero interessante, brilha por nos colocar numa situação bastante plausível.
Há de se dizer que o ritmo proposto pelo game é bastante lento, tentando criar tensão no jogador ao nos deixarmos preocupados com o que nos espera na próxima esquina e nos entregando pouquíssimos recursos, mas se você não faz questão de jogos com tiroteios a todo momento e está disposto a entrar de cabeça no clima proposto pela Ubisoft, acho que encontrará muita diversão em I Am Alive, um game que talvez mereça muito mais ser sentido do que jogado.