Assassin's Creed Valhalla

Os vikings sempre foram conhecidos pela maneira feroz como se comportavam nos campos de batalha, pela violência como invadiam cidades e por sua mitologia riquíssima. Nos últimos anos esse povo ganhou bastante espaço na indústria do entretenimento e sabendo que algumas boas histórias baseadas neles poderiam ser contadas, a Ubisoft decidiu usar a sua franquia Assassin’s Creed para explorar um dos períodos mais interessantes da humanidade.

Situado na ano de 873 AC, época que ficou conhecida como a Idade das Trevas, Assassin’s Creed Valhalla conta a história fictícia de Eivor, um(a) guerreiro(a) que junto com seus amigos sairá do país que hoje chamamos de Noruega para participar da invasão da região que atualmente conhecemos como a Grã-Bretanha. Mas antes deste arco principal, precisamos saber o que moldou a personalidade deste viking.

Filho de um dos líderes locais, ainda muito jovem o protagonista viu seus pais serem assassinados por Kjotve, o Cruel e após ser salvo pelo seu amigo Sigurd, o objetivo de vida de Eivor passou a ser matar o chefe militar rival. 17 anos depois, agora ao lado do seu salvador e aquele que passou a considerar como um irmão, o personagem finalmente tem a oportunidade de se vingar, mas o ataque falha e Eivor precisa se contentar em ter recuperado o machado que antes era de seu pai.

Como não pretendo estragar a experiência de ninguém, não darei maiores detalhes sobre o enredo, limitando-me a dizer que uma sequência de acontecimentos nos fará deixar a Noruega e seguir os passos dos filhos de Ragnar Loðbrók (ou Lothbrok), um famoso rei viking que marcou seu nome na história por ter atacado a Inglaterra diversas vezes. Será lá que grande parte da aventura acontecerá, com Eivor e seus companheiros precisando montar uma colônia e fazer o possível para expandir seus domínios.

Um ponto em que o jogo evoluiu em relação aos seus antecessores (ao menos os dois últimos), é na profundidade do protagonista. Eivor nunca parece uma tábula rasa, com o seu desenvolvimento estando diretamente ligado a aqueles que encontramos pelo caminho. Se antes isso acontecia apenas quando voltávamos para a história principal, aqui quase tudo serve para influenciar o amadurecimento do viking, com as conversas e missões não estando disponíveis apenas para encher o jogo de conteúdo.

Com um enorme mapa para ser explorado, a quantidade de atividades presentes em Assassin’s Creed Valhalla é algo impressionante. Para todo lado que olhamos existe algo acontecendo ou esperando para ser descoberto. De tesouros a equipamentos que poderão nos ajudar, passando por itens que utilizaremos para fazer melhorias nas armas ou armaduras e pessoas com coisas interessantes para nos dizer, “perder-se” entre os muitos pontos de interesse espalhados pela antiga Inglaterra é extremamente fácil.

Aqui não adianta ter pressa, pois será comum estarmos indo para algum lugar e no meio do caminho termos a nossa atenção desviada para algo que nada tem a ver com o nosso objetivo. Isso pode ser um grande problema para quem gosta de vasculhar cada canto do cenário, mas para aqueles que adoram missões paralelas, é reconfortante ver que dessa vez a equipe responsável pelo jogo conseguiu trazer com elas um bom nível de variedade e principalmente, de histórias que merecem ser conhecidas.

Some a isso cenários deslumbrantes, com uma quantidade de detalhes de cair o queixo e que transbordam vida (e morte) por todos os lados. O trabalho realizado pelos artistas da Ubisoft é algo já bem conhecido e aqui o resultado não foi diferente. Dos camponeses realizando suas tarefas diárias ao horror de vilas incendiando durante um ataque, há ainda espaço para admirarmos o pôr do Sol enquanto descemos um rio a bordo do nosso drakar ou nos nos sentirmos enojados ao pisarmos no que antes foi o local de um massacre.

O mesmo pode ser dito da região da Noruega, mas por lá predominará a paisagem branca devido a constante queda de neve. No entanto, não pense que não existe beleza nos enormes fiordes que cortam as montanhas locais ou nas belas construções erguidas pelos vikings. De fato, o trabalho de pesquisa realizado por estes profissionais é algo que impressiona e não espanta suas criações serem tão admirada até por historiadores.

O cuidado vs. O puro caos

Quando se trata da jogabilidade, Assassin’s Creed Valhalla é um capítulo da série com elementos capazes de dividir opiniões. Um dos motivos para esta polarização é a manutenção de um estilo mais voltado para o RPG, com tanto o protagonista quanto os inimigos contando com níveis e os equipamentos que utilizamos podendo ser evoluídos. Isso faz com que certas regiões sejam praticamente inacessíveis, já que por lá as ameaças poderão acabar conosco num piscar de olhos, o que difere muito dos títulos pré-Assassin’s Creed Origins.

Outro ponto que poderá desagradar algumas pessoas é a própria essência do que eram os vikings. Ao contrários dos assassinos da franquia, aqueles guerreiros costumavam atacar em bandos e por isso o Valhalla está repleto de situações assim. Funcionando como incursões (raids), estes eventos acontecerão depois de atracarmos nosso barco em algum lugar e a partir daí, restará usar a força do grupo para aniquilar os guardas e saquear tudo o que encontrarmos pela frente.

Skål!

Colocamos os fortes cavalos do mar (navios) correrem pelas ondas,
enquanto a armadura brilhante
era coberta de sangue;
A fêmea do lobo, as águias, os homens,
estavam festejando, famintos,
o sangue escorria dos pescoços avermelhados e da espada,
rubra como o sangue.

– A Saga de Ragnar Loðbrók e seus filhos (Capítulo XIX, terceira estrofe)

Um dos maiores problemas desta mecânica está na própria jogabilidade, já que o sistema de batalha do jogo não conta com muita profundidade e no geral teremos apenas que nos esquivar dos ataques inimigos, golpeá-los quando tivermos oportunidade e contar com a ajuda da inteligência artificial. Sim, é legal participar de uma dessas invasões, com os gritos e lutas criando uma boa imersão, mas logo essas missões se tornam repetitivas e pouco interessantes.

Por outro lado, gostei da maneira como a Ubisoft nos deu a liberdade de agir em algumas missões, com elas podendo ser feitas tanto na base do ataque bruto, quanto de maneira sorrateira. Um exemplo é quando precisamos matar um lorde que se nega a deixar uma cidade que antes era controlada por um viking. Escondido em um monastério, ao chegar no lugar a pessoa que me pediu ajuda diz que os seus homens estão prontos para agir caso algo saia errado, o que significaria uma verdadeira guerra, mas como consegui invadir o local sem ser detectado, a missão acabou correndo como num Assassin’s Creed mais tradicional.

Há quem defenda que a maneira correta de se jogar o Assassin’s Creed Valhalla seja partindo para um ataque mais aberto, sem recorrer às habilidades furtivas que o nosso personagem possui, mas acredito que o ponto alto do jogo está justamente em ele não impor amarras. Para mim, nada pode ser mais satisfatório do que invadir uma fortaleza, evitar que os inimigos me vejam, dar cabo do meu alvo e sair sem que eles saibam o que os atingiu. Considero esta a essência da franquia, mas entendo quem não goste ou tenha paciência para jogar desta maneira e é bom ver que estão fazendo o possível para agradar um público maior.

Na verdade, esta dualidade de ações é motivada pelo próprio jogo, com a árvore de habilidades do personagem sendo dividida em três partes: ataque a curta distância, longa distância e stealth. Cada caminho nos dará acesso a golpes e habilidades distintas, sendo que nos especializar em um não significa não podermos investir em outro. Novamente, ponto para a equipe que criou o jogo.

Rumo à Valhalla

Oferecendo muito mais acertos do que erros, Assassin’s Creed Valhalla é um ótimo jogo para quem gosta de imergir num mundo rico, cheio de conteúdo e que poderá lhe manter fisgado por várias dezenas de horas. Trata-se de um título que, mesmo com eventuais bugs ou arestas que poderiam ser aparadas, conta com um elevado nível de qualidade, uma história envolvente e uma das ambientações mais legais que apareceram na série.

Mas acima de tudo, este tem sido um título que tem me feito querer jogar sempre um pouco mais, me instigado a avançar até o próximo ponto marcado no mapa, mesmo sabendo que durante o caminho inevitavelmente acabarei desviando, só para ver o que está acontecendo há alguns metros. E com isso, sei que dedicarei muitas e muitas horas à esta fantástica aventura viking — e o que mais podemos querer de um jogo?

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.