Uma das coisas que mais me fascinam nos videogames é a capacidade que a mídia tem de me surpreender, de continuar me mostrando títulos que passaram batido pelo meu radar, mesmo com eles tendo sido lançado há algumas décadas. Isso aconteceu com o Legend e o Iron Commando, mas graças ao Beat ‘Em Up Archives, do selo QUByte Classics, recentemente pude corrigir esta falha.

Beat Em Up Archives

Desenvolvidos pela Arcade Zone, ambos os jogos foram lançados para o Super Nintendo e por mais que eu sempre tenha gostado muito do gênero, eis que tanto tempo depois, consegui entender o motivo para eles não terem chamado minha atenção.

Começando pelo Legend, sua história se passa no reino de Sellech, durante a idade média. No controle dos guerreiros Igor ou Kaor, teremos que abrir caminho até o filho do rei Clovis, que está tentando aproveitar força oriunda da alma aprisionada de um antigo déspota.

Funcionando como um típico Hack and Slash, com os personagens carregando uma espada, podendo se defender com um escudo e varrer a tela ao utilizar magias, de cara a primeira lembrança que tive ao iniciar uma partida foi de estar jogando um Golden Axe ou o The King of Dragons, o que foi um bom sinal.

Porém, ao contrário dos clássicos da Sega e da Capcom, Legend não conta com o mesmo polimento, principalmente quando se trata da jogabilidade. Para ser sincero, hoje mesmo o Golden Axe me parece um jogo muito truncado e este foi o exato sentimento que tive ao encarar essa aventura disponível no Beat ‘Em Up Archives.

Beat Em Up Archives

O simples ato de mover os personagens já parece um tormento e devido a um certo atraso na resposta dos comandos, as batalhas nunca se mostraram muito divertidas. Some a isso confrontos bem difíceis com chefes e um sistema de continues que o obrigará a voltar ao início dos estágios e a tarefa de terminar o Legend será para poucos.

Já na parte visual a Arcade Zone fez um trabalho muito bom, com os cenários contendo muitos detalhes e a animação dos personagens sendo bonita.

Por se tratar do primeiro trabalho de um estúdio pequeno, sendo que o jogo foi desenvolvido por apenas duas pessoas, Carlo Perconti e Lyes Belaidouni, acredito que os problemas que citei devam ser relativizados.

O flerte com o Jaguar
Em 1995, Perconti e Belaidouni apresentaram ao mundo uma demo de Konan, jogo que serviria como uma continuação direta do Legend para o Atari Jaguar. Contudo, esse projeto nunca foi terminado e o jogo de estreia da dupla só teria uma nova chance em 1998, quando o PlayStation recebeu um apenas mediano remake em 3D.

Se no jogo anterior a Arcade Zone subiu a barra da dificuldade, aqui eles conseguiram deixá-la ainda mais elevada. Com os inimigos sempre tentando nos cercar, será fácil levarmos boas surras até conseguirmos derrubar um grupo e o fato deles quase sempre estarem carregando armas só tornará a tarefa mais dura.

Beat Em Up Archives

Na verdade, em Iron Commando o nosso principal objetivo será sempre tentarmos conseguir uma pistola, uma faca ou um bastão, já que desarmados seremos uma presa fácil. Mas além dessas armas nãos erem infinitas, os inimigos aguentarão muita pancada, fazendo com que muitas vezes tenhamos que gastar todos os disparos em apenas um alvo.

No jogo também teremos o problema dos continues não nos devolver ao lugar em que morremos e com dez estágios até o final, prepare-se para refazê-los diversas vezes até conseguir decorar os perigos que encontrará pelo caminho.

Os gráficos também são muito bonitos — até superiores aos do Legend — e até pela disponibilidade de armas de fogo, é difícil não lembrar de Cadillacs and Dinosaurs ao olhar para o Iron Commando.

Um detalhe curioso sobre esta produção é que ela deveria ter sido publicada no ocidente por volta de 1995, pela Sony Electronic Publishing, assim como aconteceu com o seu antecessor. Porém, naquela época a empresa japonesa decidiu cancelar todos os contratos de publicação devido à ruptura da parceria com a Nintendo para a criação de um leitor de CD para o Super Nintendo. O resultado daquilo todos nós sabemos, um aparelho chamado PlayStation.

Para aqueles que adoram conhecer detalhes sobre jogos clássicos, ter acesso a artes conceituais ou entrevistas com os criadores, infelizmente isso não será encontrado no Beat ‘Em Up Archives. Na coletânea teremos basicamente acesso aos jogos como eram originalmente, exceto pela utilização de alguns filtros ou a possibilidade de mudarmos o tamanho da tela.

Até pelo alto grau de dificuldade do Legend e do Iron Commando: Koutetsu no Senshi, seria legal se este relançamento nos desse acesso a configurações adicionais, como habilitar vidas infinitas, escolher as fases ou até a adição checkpoints.

Isso não quer dizer que a trabalho realizado pelo estúdio brasileiro seja dispensável ou que tais jogos não mereçam retornar. Eu sempre serei partidário que todos os títulos devem estar disponíveis na maior quantidade possível de plataformas e algo como o Beat ‘Em Up Archives serve justamente para isso.

No entanto, se você procura um jogo do gênero mais acessível, principalmente quando se trata da jogabilidade, há muitas outras opções melhores por aí. Aqui o negócio será de arrancar os cabelos ou fazer o controle voar em direção à parede.

http://www.vidadegamer.com.br
Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.