Call of Duty: Vanguard

Para muitas pessoas, jogos de tiro em primeira pessoa valem apenas pelos seus modos multiplayer, com cada novo lançamento sendo ansiosamente aguardado para que o tiroteio online tenha continuidade. Eu, por outro lado, sempre prefiro as campanhas solo desses títulos e foi por causa disso que estava curioso para jogar o Call of Duty: Vanguard.

Levando a franquia de volta à Segunda Guerra Mundial, queria ver o que a Sledgehammer Games havia tirado de um conflito tantas vezes explorado nos videogames e apesar da história contada pelo estúdio não ser inovadora, gostei da maneira como a narrativa se desenrola.

Em Call of Duty: Vanguard acompanharemos quatro soldados que acabam sendo recrutados para fazer parte do primeiro grupo de operações especiais de que se tem notícia. Contando com personalidades distintas (algumas vezes erráticas) e diversas nacionalidades, eles foram baseados em figuras reais que entraram para a história — apesar de um deles ter gerado alguma polêmica ao ser retratado como sendo de outro país.

Reunidos para participar de uma missão suicida em que teriam que roubar os documentos de um misterioso programa nazista chamado Project Phoenix, o resultado acaba não sendo como o grupo esperava e é a partir daí que o enredo do jogo ganha força.

Isso porque a maior parte da história será contada através de flashbacks, quando conheceremos o que levou aquelas pessoas a serem escolhidas. Temos por exemplo o paraquedista britânico Arthur Kingsley, inspirado em Richard Webb e que ficou conhecido como o primeiro negro a desembarcar na Normandia; ou o piloto Wade Jackson, baseado no americano Vernon Micheel, que teve uma atuação de destaque na Batalha de Midway.

Call of Duty: Vanguard

Mas de todos os personagens que conhecemos em Call of Duty: Vanguard, aquela que achei mais fascinante é a soviética Polina Petrova. Inicialmente atuando como médica para o exército vermelho, a invasão de Stalingrado acaba fazendo com que a moça lute contra os nazistas e assim nasce uma das principais franco-atiradoras de todos os tempos.

A maior de todas


Polina Petrova foi inspirada em Lyudmila Pavlichenko, franco-atiradora que ficou conhecida como a “Senhora Morte” após ter matado mais de 300 fascistas, na maioria alemães. Sua imagem era tão forte que ela chegou a ser usada pelos soviéticos para motivar seus soldados.

No jogo, Polina é movida pelo puro ódio, usando seu talento para aniquilar a maior quantidade possível de nazistas e como sempre prefiro jogar como sniper em títulos assim, ter me interessado mais por ela era algo que eu já deveria ter esperado.

Contudo, também contribuiu para eu ter gostado mais deste arco da história a própria recriação da invasão da cidade, uma sequência de tirar o fôlego, mas que é preciso dizer, não é a única. Na verdade, um dos méritos do jogo é justamente nos colocar sempre em situações de extremo risco e para quem já está acostumado com a série, novamente encontrará aqui uma campanha digna dos melhores filmes de ação.

Eu ainda gostei de poder visitar várias frentes da Segunda Guerra, do Pacífico à África, passando ainda pelos teatros ocidentais e orientais da Europa. Outro ponto positivo é a maneira como o enredo aborda o fim do conflito, contando uma história fictícia, mas que se torna plausível devido ao contexto. A criticar, apenas a falta de profundidade dos antagonistas, em especial Hermann Freisinger, interpretado aqui por Dominic Monaghan. Me incomodou a maneira um tanto caricata como o vilão é mostrado, pois se a ideia era ele estar ali para nos causar medo e repulsa, em boa parte do tempo o sujeito não passa de… um bundão!

Outro aspecto que pode ser considerado negativo por alguns é a duração da campanha, sendo possível chegar ao fim da história em poucas horas. Mesmo com a dinâmica sendo tão frenética, o que faz com que o modo single-player possa parecer maior do que realmente é, confesso ter ficado com vontade de jogar mais, de conhecer mais situações tensas vividas pelos protagonistas e como não há muitos incentivos para refazer as missões, resta me contentar em ter sido bom enquanto durou.

Contudo, de todas as críticas que podem ser feitas ao trabalho da Sledgehammer, a principal é a oportunidade perdida de tornar a jogabilidade muito mais estratégica. Isso porque cada personagem conta com habilidades específicas, como mandar outros soldados suprimir o fogo inimigo ou usar uma faca para distrair um franco-atirador que está nos caçando.

O problema é que na maioria das vezes essas “facilidades” só podem ser utilizadas em lugares específicos, fazendo com que a ação seja guiada ao extremo. A exceção está na capacidade de Wade Jackson de focar sua atenção e assim identificar inimigos escondidos no cenário ou de Lucas Riggs de carregar diversos tipos de explosivos. Mesmo assim, nada que eleve a jogabilidade a outro nível.

Call of Duty: Vanguard também me surpreendeu pelo aspecto técnico. Como há alguns anos eu não jogava um capítulo da série, não sabia muito bem o que encontraria na parte visual e por muitas vezes o jogo conseguiu me deixar de queixo caído. Com efeitos de iluminação impressionantes e texturas em alta resolução, este foi certamente um dos títulos mais bonitos que joguei em 2021, com ele mostrando muito do que a nova geração é capaz de nos oferecer.

Todos os cenários são bastante detalhados, com algumas partes podendo ser destruídas e com algumas áreas sendo consideravelmente grandes. O que não me agradou muito foi a animação facial dos personagens, algo que por sinal parece estar se tornando comum nos jogos. Isso provavelmente se deve ao avanço feito no restante dos gráficos, que estão cada vez mais realistas, sem que os rostos consigam acompanhar a evolução.

Especulações a parte, no caso do PlayStation 5 também merece destaque a utilização do DualSense, com os recursos do controle do videogame sendo bem utilizados. Mesmo não trazendo nada de revolucionário, a maneira como o gamepad reage a o que está acontecendo na tela ajuda a aumentar a imersão, sendo uma experiência que só é possível entender com o controle nas mãos.

Eu ainda não me aventurei muito pelos modos multiplayer do Call of Duty: Vanguard, mesmo porque nunca gostei muito do seu estilo demasiadamente frenético, mas posso dizer que devido a sua campanha, o jogo me agradou bastante.

Não é uma história que ficará marcada na minha memória como uma das melhores que já conheci, os seus personagens (no geral) não possuem o carisma necessário para torná-los fantástico, mas ainda assim foi muito legal poder voltar mais uma vez à Segunda Guerra.

Ao contrário de boa parte do público, este é um período da humanidade que continuo achando muito interessante e se um jogo se dispuser e recriá-lo, estarei pronto para encará-lo. Para mim, atravessar os campos das batalhas (principalmente os da Europa) da década de 40 continua sendo uma experiência incrível, mesmo se tratando de histórias fictícias como as daqueles quatro adoráveis “bastardos” que ousaram derrotar o Terceiro (e o Quarto) Reich.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.