Uma cidade, um vício e uma baita crise existencial

Eu adoro jogos de estratégia. Gosto tanto que considero este um dos meus gêneros favoritos e por isso evito ao máximo começar um jogo que se encaixe na categoria. Contraditório? Pode ser, mas faço isso porque sei que ao encarar uma partida provavelmente passarei várias e várias horas no título, deixando todo o resto de lado.

Pois mesmo sabendo que existia uma enorme chance de ser fisgado por ele, resolvi dar uma chance ao Cities: Skylines e depois de 24 horas dedicadas ao simulador de cidades da Colossal Order, cheguei ao ponto em que me questiono se realmente vale a pena continuar jogando.

cities-skylines-3Jogos como este costumam ser muito traiçoeiros, nos passando uma ótima sensação de progressão, mas também nos deixando com a dúvida sobre o que estamos fazendo ali, qual o sentido em passar tantas horas mesmo sabendo que não veremos um fim e este título em espacial conta com um sério defeito que aumenta essa impressão de tempo perdido: falta de dificuldade.

Fazer com que a sua cidade se torne sustentável é uma tarefa fácil e não demorou muito até que eu chegasse a um ponto em que poderia colocar qualquer construção nos bairros ou nem precisasse me preocupar com as decisões que tomasse, pois sabia que o dinheiro nos cofres seria suficiente para corrigir qualquer equívoco.

Some a isso o fato de não termos desastres naturais ou qualquer tipo de grande ameaça e no atual estágio da minha cidade, o Cities: Skylines acabou se transformando quase que em uma espécie de tela digital, onde preciso apenas escolher onde darei a próxima pincelada para ver minha criação ganhar vida.

Com pouco mais de 50 mil habitantes, hoje a única preocupação da minha cidade é continuar ganhando território, com bairros residenciais e comercias ficando de um lado do rio que a corta e uma pequena zona indústria poluindo um pedaço do outro, nada que me faça perder a noite de sono.

Ainda assim, o simulador tem frequentado meus pensamentos mesmo quando estou longe do PC, me fazendo contar as horas para poder sentar diante da televisão só para dar continuidade à aquela estrada; para obter acesso a uma nova construção única; procurando novas modificações que poderão enfeitar aquele mundo virtual ou simplesmente para tentar fazer funcionar minha tão sonhada hidrelétrica.

Então, por mais que eu relute, sempre resolvo aproveitar o título só mais um pouco, até que cedida à tentação, depois de três ou quatro horas seguidas de jogatina bate aquele sentimento de culpa e a duvida volta rondar minha cabeça: realmente vale a pena continuar jogando?

cities

A verdade é que as horas em que passei no Cities: Skylines foram extremamente recompensadoras. Durante esse tempo vi uma epidemia matar boa parte da população e deixar várias outras pessoas doentes, tudo porque coloquei uma caixa d’água numa região poluída; quase desisti da cidade ao ver minha conta ficar negativa, o que só corrigi graças a um empréstimo (que logo foi pago) e ainda vi uma enorme inundação ter início, tudo por causa de uma hidrelétrica mal posicionada. Ah, as malditas hidrelétricas!

Steam Workshop
Com uma comunidade já bastante atuante, Cities: Skylines tem se destacado também pela enorme quantidade de modificações disponíveis e que podem corrigir algumas falhas deixadas pela desenvolvedora.
Apesar de muitas vezes não nos darmos conta disso, Cities: Skylines é também um jogo sobre essas histórias. Situações inusitadas que presenciamos e desafios que ultrapassamos. É um jogo sobre a falsa sensação de sermos políticos melhores do que aqueles do mundo real que tanto adoramos odiar.

Porém, chega um momento em que todos nós procuramos novos desafios e oportunidades e mesmo não tendo certeza se para mim esse momento chegou cedo ou tarde, o fato é que estou prestes a abandonar minha tão bela (e estruturada) cidade. Só não tenha certeza por enquanto se de fato conseguirei fazer isso.

Sim, pelo jeito o processo de desintoxicação não será dos mais fáceis, o que só reforça a sensação de que, apesar de seus erros, o Cities: Skylines é excelente no que se propõe.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.