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Ontem eu fechei o modo história de um game que me encantou demais. Por cerca de 10 horas vivi a vida de um personagem, seus medos, encantos e dissabores me foram apresentados na clássica jornada do herói.

Conheci uma pessoa comum em seus afazeres ordinários, treinei-o para ser um campeão, enfrentei desafios, perdi, precisei aprender novas técnicas, aperfeiçoando as habilidades no caminho e conhecendo outros personagens, e no fim de toda a jornada, com o dia mais uma vez salvo, pereci.

Não foi uma morte que se resolve-se com um restart. Era isso, os créditos subindo, a música rareando enquanto as luzes se apagavam e ali jazia meu personagem. A morte do personagem fazia parte da narrativa e os autores do game/história queriam me passar essa dor de tê-lo perdido.

Um cisco atrevido caiu-me no olho e fiquei com olhos e nariz vermelho.

O nome desse jogo que tanto me emocionou vai ficar em aberto para evitar spoilers, mas assim como no filme A Paixão de Cristo (daí a imagem que ilustra o post), o personagem principal morre.

Refleti um pouco sobre isso essa manhã: por um lado, achei que a produtora foi sádica em matar alguém com quem tanto aprendemos, por outro, achei que a coragem em dar um fim ao personagem digno de respeito e admiração.

No momento em que o apego a um personagem, tanto pelos fãs quanto pela empresa é tão grande que não conseguimos mais ver um “let it go”, essa decisão de finalizar a história de alguém merece meu total respeito.

Particularmente sou contrário à anualização das franquias. Todos os anos, Activision, EA, Ubisoft, entre outras, obrigam seus fãs a adquirirem um novo CoD, um novo FIFA e um novo Assassin’s Creed. Essa anualização impede que exista um salto evolutivo nos motores gráficos, daí o FIFA 200X ser igual ao FIFA 200Y com alguns times licenciados a mais ou a menos.

Para mim, vejam bem, PARA MIM (abaixem as pedras por favor), CoD tornou-se um jogo de tiro genérico, sem alma, um Conter-Striker gourmetizado, que só vende tanto porque os fãs desse FPS precisam estar na mesma versão que seus amigos, e por efeito manada, compram o CoD 200Y para não ficarem para trás e sem ter com quem jogar no CoD 200X.

Assassins-Creed

Da mesma forma, embora Assassin’s Creed seja um jogo legal, a cada ano sabemos que um homem vai entrar na Animus, viver memórias de um antepassado e teremos o controle nas mãos para vivermos na Revolução Americana, num barco pirata, na Inglaterra Vitoriana … (será que um dia teremos AC – Revolução Farroupilha? Ou um AC – Desembarque na Normandia? … ops, aí vira Call of Duty com a Animus…)

Com o desfecho do game que terminei, a produtora entrega de uma só vez um produto finalizado para seus fãs e abre o caminho para que novas histórias sejam contadas.

O ato corajoso da produtora ganha valor nesses momentos em que os floquinhos das redes sociais têm acesso aos desenvolvedores e fazem reclamações por não gostarem desse ou daquele aspecto. Surpreende, porque conhecemos diversas outras histórias em que, se nos livros os personagens morrem, quando adaptados para tevê ou cinema, o diretor tomou a decisão de salvar o personagem, dando um sentido completamente diferente do que foi pensado originalmente. Dessa vez os produtores ousaram e resolveram encerrar a história do nosso herói e por isso meus sinceros parabéns à produtora.

Nada impede que esse artigo se torne datado dentro em breve, a produtora, ávida por mais dinheiro, pode querer sugar mais desse motor que ela criou para esse game, lançando versões alternativas para esse que considero um dos melhores que joguei esse ano. Mas espero sinceramente que não haja continuações desse game.

Jônatas Afonso, deus grego, explorador audacioso, artilheiro da copa do mundo, encanador bigodudo, piloto de karts e aviões, atirador de elite, chefe da Horda, membro da SWAT, assassino silencioso, um pequeno pixel na tela... E um ciclista quando falta luz ou preciso sair do meu mundinho.