Judgment Remastered

Embora tenha demorado mais do que deveria a fazer isso, aos poucos estou conhecendo a franquia Yakuza e a cada jogo que experimento, mais cresce a minha admiração por esta que é uma das mais aclamadas marcas da Sega. O último deles foi o Judgment Remastered, título lançado originalmente em 2019 e que recentemente recebeu uma versão para Xbox Series, Google Stadia e PlayStation 5, onde estou jogando.

Funcionando como um spin-off para a série principal, nele não assumiremos o papel de um membro da famosa organização criminosa japonesa, mas sim de Takayuki Yagami, um advogado que após passar por um momento traumático, decide abandonar os tribunais para se tornar detetive particular. A situação poderia servir como um mero pano de fundo para a história, mas é nela que se escora toda a ideia principal da jogabilidade de Judgment.

9ª geração


Otimizado para os consoles da nova geração, neles o Judgment roda a 60 FPS e com diversas melhorias na parte visual, como texturas e iluminação. Além disso, o jogo conta com um tempo
de carregamento muito inferior e traz todo o conteúdo adicional lançado para a o original.

Só é uma pena que, ao contrário do que aconteceu com o Yakuza: Like a Dragon, a aventura de Takayuki Yagami não tenha sido localizada para português.

Embora em sua essência ele também seja um jogo de ação em terceira pessoa que se passa no fictício distrito de Kamurocho, aqui teremos que colocar à prova o nosso talento para investigar provas, cenas de crimes e perseguir suspeitos. Entre as habilidades que podem ser utilizadas por Yagami para solucionar um caso estão um drone que pode ser utilizado para espionar alguém em um prédio ao qual não temos acesso; conversas que acontecerão na sequência que escolhermos ou mesmo a possibilidade de utilizar disfarces.

Tudo isso adiciona uma boa camada de variedade à franquia, mas aquilo que deveria ser o ponto alto do jogo, peca pela falta de profundidade. Durante grande parte da história essas investigações não passarão de minigames disfarçados e que nos entregam pouco ou nenhum desafio. Precisa encontrar uma evidência em uma foto? Basta passar o cursor sobre a imagem até uma dica ser revelada. Quer saber onde está uma pessoa que pode nos revelar algum segredo? Sem problema, vá até onde está marcado no mapa e após uma breve verificação, o alvo será detectado sem muito problema.

Mesmo os “interrogatórios” sofrem com a superficialidade, já que neles teremos apenas que escolher a ordem em que as perguntas serão feitas e a diferença entre o sucesso e o fracasso será ganhar ou não uma pequena quantidade de experiência. É uma pena, pois esta é uma parte do jogo que poderia ter sido muito melhor explorada e até mesmo fazer com que os encontros fossem bem mais tensos.

Já na parte dos combates, aqueles que estão familiarizados com a série não terão surpresas. Em Judgment também seremos importunados por todo o tipo de arruaceiro enquanto nos locomovemos pela cidade e aqui teremos um sistema parecido com o do Yakuza 6, onde podemos alternar o estilo de luta do protagonista quando estivermos enfrentando um ou vários inimigos.

Para ser sincero, esta sempre foi a parte da franquia que menos me interessou, pois além da jogabilidade nas lutas sempre ter me parecido muito simples, a sensação é de que estão lá apenas para deixar o jogo mais movimentado. O que torna a situação ainda pior aqui é que, se fazia sentido descermos a porrada nos outros por sermos membros de uma temida gangue, o mesmo não acontece ao estarmos na pele de um advogado/detetive.

Fora isso, o jogador ainda poderá usar seu tempo para explorar o mapa e participar de diversas atividades não-obrigatórias, como participar de corridas de drones, jogar alguns clássicos da Sega nos fliperamas da região, fazer refeições nos muitos restaurantes ou parar em uma bar para tomar um drinque. O lugar também possui alguns personagens que nos consideram amigos e quanto mais interagirmos com eles, maior será a chance de ganharmos itens ou missões secundárias.

Toshihiro Nagoshi e a arte de contar uma boa história

Mas se o Judgment derrapa em sua jogabilidade por não conseguir entregar um jogo de detetive mais elaborado, o mesmo não pode ser dito do seu enredo. Com uma excelente narrativa e uma história muito bem escrita, desde os primeiros minutos o jogo conseguiu me deixar curioso em saber quem é o serial killer que tem aterrorizado a região de Kamurocho e para minha surpresa, não é apenas isso o que nos prende.

Contando com diversas reviravoltas, conspirações, traições e revelações, a história contada no jogo é repleta de nuances e graças às excelentes atuações, é fácil nos pegarmos querendo jogar mais um pouco só para saber o que acontecerá a seguir. Por isso não acho exagero afirmar que poucas vezes vi um jogo com um enredo tão interessante, algo que poderia muito bem ter sido transformado numa série policial — e que se tivesse acontecido, acredito que teria um grande potencial para fazer muito sucesso.

Há também as muitas histórias secundárias com as quais teremos contato e que servirão como missões paralelas. Servindo para ocupar o tempo do protagonista e fazer com que a sua vida não se resuma a caçar um perigoso assassino, algumas dessas investigações são muito legais, outras nem tanto, mas todas ajudam a incrementar o universo do jogo e a tornar o próprio Yagami um personagem mais interessante.

Ainda assim, no fim do dia eu só queria poder dar continuidade à história principal sem precisar dividir meu tempo com a necessidade de comprar um item de colecionador para um sujeito que vive enfiado em um cybercafé ou ter que parar em cada quarteirão para dar uma surra em dois ou três vagabundos que, mesmo sem motivo, decidiram me ameaçar.

Este por sinal é um dos problemas que sempre me afastaram da série Yakuza. Me incomoda essa dificuldade dos jogos deixarem de lado alguns alicerces que foram fundados há mais de uma década e que não funcionam tão bem hoje em dia. No caso do Judgment, ao fazer isso o Ryu Ga Gotoku Studio correu o risco de queimar um bom jogo de detetive e se de certa forma isso aconteceu, a sua história é tão boa que qualquer problema com a jogabilidade não tem me incomodado a ponto de querer abandonar o título.

 

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.