Talvez seja o acúmulo de tantos anos jogando, talvez seja a pura falta de tempo para acompanhar tantos lançamentos, o fato é que cada vez mais tenho valorizado jogos que conseguem me surpreender positivamente. E ao misturar dois gêneros que adoro, Mandragora: Whispers of the Witch Tree conseguiu me fisgar de uma maneira que não esperava.

Podendo ser classificado como um Soulsvania, a criação da pequena desenvolvedora húngara Primal Game Studio mistura as mecânicas e o estilo de combate típico dos jogos da FromSoftware, com a exploração e aquisição de habilidades comuns nos Metroidvanias. Contudo, não seria justo reduzir o título a uma mera colcha de retalhos.

No início da campanha Mandragora: Whispers of the Witch Tree nos colocará para criar um personagem e escolher uma das seis classes, algo que o aproxima mais dos Soulslike. Ali poderemos focar em ataques mais poderosos, explorar a magia ou partir para movimentos mais rápidos.

Mandragora: Whispers of the Witch Tree

Crédito: Divulgação / Primal Game Studio

Mas seja lá qual estilo você escolher, quando partir para o combate, aqueles familiarizados com Soulslike terão uma certa vantagem. Aqui será imprescindível saber quando golpear, quando desviar e principalmente, poupar o consumo de energia. Porém, ao contrário do que vemos nos jogos da FromSoftware, este não oferece uma dificuldade tão punitiva — ao menos não até nos aproximarmos da parte final da aventura.

Sendo bastante generoso quando se trata dos pontos de renascimento, poucas vezes me vi muito distante dos locais em que enfrentamos os maiores desafios. Além disso, Mandragora: Whispers of the Witch Tree também nos permite fazer fast travels quando quisermos, o que torna o backtrack, algo tão comum nos metroidvanias, menos cansativo.

Contudo, neste título o ato de ir e vir pelos cenários possui suas vantagens. Por se tratar de um jogo em que o nosso personagem evoluirá, a experiência adquirida após derrotarmos os inimigos nos tornará mais forte. Assim, algumas vezes nos veremos dedicando um bom tempo para enfrentar os mesmo inimigos, apenas para juntar a quantidade de experiência necessária para subir de nível.

Então, os pontos que receberemos com esse avanço serão usados em uma árvore de habilidades, o que nos permitirá melhorar, por exemplo, o poder de ataque, agilidade, capacidade de carregar mais peso ou fortalecer nossas magias. Já as habilidades para alcançar locais que antes eram inacessíveis, essas receberemos ao avançar pela história ou encontrando certos itens.

Dos Soulslike ele ainda aproveitou a possibilidade de criarmos atalhos, como destrancar uma porta, ativar um elevador obstruído ou acionar uma escada. Já os veteranos de Castlevania naturalmente golpearão quase toda parede que encontrar pelo caminho, já que elas podem esconder salas secretas que abrigam itens valiosos.

Crédito: Divulgação / Primal Game Studio

E quanto a história, Mandragora: Whispers of the Witch Tree se difere de outros Soulslike por entregar um enredo sem tanta subjetividade. Escrita por Brian Mitsoda, mesmo roteirista do Vampire: The Masquerade – Bloodlines, ela explora muitos dos temas comuns a histórias de fantasia, como o mundo estar sob a ameaça de uma força poderosa e a esperança recair sobre as costas de uma pessoa. Mesmo assim, gostei das reviravoltas apresentadas e de alguns personagens.

No papel de um inquisidor que a mando do Clérigo Rei precisa acabar com os hereges, passaremos por locais importantes do reino de Faelduum, de um misterioso pântano à Cidade Rubra. A jornada nos levará a questionar nossa função, com o protagonista se tornando bem diferente de quando iniciamos a aventura.

Já na parte técnica, o trabalho realizado pelo pessoal da Primal Game Studio chama a atenção. Embora prefira jogos com visão lateral que utilizem a boa e velha pixelart, a qualidade dos gráficos 3D aqui é alta, com destaque para a movimentação do protagonista e dos chefes — que vale dizer, infelizmente algumas vezes são reaproveitados. Os cenários também possuem um bom nível de detalhes, mas o ponto alto mesmo é a boa iluminação e a direção artística sombria, responsável por tornar a exploração mais assustadora.

Mandragora: Whispers of the Witch Tree

Crédito: Divulgação / Primal Game Studio

Contudo, por mais que todas essas qualidades tenham servido para tornar a experiência mais divertida, Mandragora: Whispers of the Witch Tree é aquele tipo de jogo que nos conquista por um simples motivo: ser agradável de jogar.

Conforme explorava Faelduum, meu desejo era continuar jogando apenas para ver que inimigo encontraria adiante, até que ponto um próximo chefe seria desafiador ou o que estaria escondido naquele lugar que antes não conseguia acessar.

Precisar tomar o maior cuidado possível ao chegar em uma nova área e o medo de perder a experiência coletada, já que assim como em qualquer Soulslike precisamos retornar ao local em que morremos, são detalhes que tornaram muito mais interessante o que poderia ser apenas mais um Metroidvania.

Embora não seja um jogo que mudará a indústria ou até mesmo responsável por converter quem não se interessa muito por esses gêneros, Mandragora: Whispers of the Witch Tree surgiu como uma grata surpresa, sendo desafiador na medida certa, entregando profundidade nos seus sistemas de RPG e com um sistema de combate fácil de ser aprendido, mas nem por isso simples.

Mesmo com tantos Metroidvanias e Soulslike disponíveis nos mercado, poucos jogos conseguiram unir tão bem esses dois gêneros e por isso, Mandragora: Whispers of the Witch Tree merece a atenção de todos que gostam de títulos assim.

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Pai em tempo integral do Nicolas, enquanto se divide entre a comunicação pública e o Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.