paper beast

Eu não posso dizer que sou alguém que possui muitos ídolos, mas entre eles está Éric Chahi. Game designer de poucas criações, tudo o que joguei dele me agradou muito e por isso fiquei bastante chateado quando soube que a sua próxima obra seria exclusiva para dispositivos de realidade virtual. Como não possuo um HMD, não poderia experimentar o curioso Paper Beast, mas isso mudou quando a versão Folded Edition foi anunciada para PC.

Agora funcionando sem a necessidade dos tão controversos óculos, Paper Beast pode ser descrito como uma mistura de jogo de quebra-cabeças com godgame, mas em sua essência ele está mais para um safári por uma terra estranha e que só existe graças à criatividade do seu criador. Afastado dos games desde 2011, quando lançou o From Dust, Chahi sempre será lembrado como a mente brilhante por trás do espetacular Another World (Out of this World) e aqui ele retorna com a sua peculiar visão para um mundo alienígena.

Do pó ao outro mundo

Sem nunca deixar muito claro o que está acontecendo, o enredo do game está quase sempre deixando espaço para interpretações, o que ajuda a reforçar a sua tentativa de se vender como uma obra de arte. O que a Pixel Reef nos diz é que a aventura se passa nas profundezas da internet, um lugar onde a vida despertou e por um motivo que não é muito bem explicado, acabamos sendo jogados lá através de uma simulação.

Pois será naquele vasto deserto que encontraremos diversos animais que parecem origamis, seres das mais variadas formas e que embora tenham uma aparência intimidadora, normalmente não nos apresentam perigo. O desafio portanto será aprender seus comportamentos e encontrarmos maneiras de nos unirmos a essas criaturas para solucionarmos alguns quebra-cabeças, para assim avançarmos para a próxima cena.

Entre esses desafios temos a necessidade de proteger alguns desses bichos de seus predadores ou a utilização do cursor para mover objetos, atrair a atenção dos animais ou até mesmo criar caminhos no chão para que a água chegue a lugares que pareciam inatingíveis. Aqui fica claro a experiência de Chahi na criação do From Dust, com o sistema de física implementado em Paper Beast funcionando como uma evolução do que vimos naquele jogo.

Já o primeiro grande sucesso do game designer se faz presente na jogabilidade do Paper Beast na maneira como precisamos nos unir aos bizarros seres para termos alguma chance de vencer os desafios daquele mundo tão estranho. Para mim, logo no início da aventura foi impossível não lembrar do gigante-amigo que nos acompanha durante todo o Another World.

Sai a RV, entra a maior acessibilidade

Se por um lado o esforço da Pixel Reef em tornar o jogo mais acessível é elogiável, basta poucos minutos naquela “simulação” para entendermos que desde o início ele foi pensado na realidade virtual e em controles com sensores de movimentos. Mover-se pelo mundo de Paper Beast usando um controle comum é uma experiência tão simples quanto em qualquer outro jogo em primeira pessoa, já interagir com o cenário nunca parece tão intuitivo.

Basta citar o ato de trazer um objeto para mais perto de nós ou levá-lo para longe. Enquanto isso poderia ser feito de maneira bastante natural ao movermos nossos braços enquanto utilizamos algo como um PlayStation Move, com um gamepad tradicional teremos que usar os direcionais para cima ou para baixo. Trata-se de um sacrifício necessário e que de maneira alguma prejudica a experiência, mas que mostra como ela pode ser melhor ao usarmos o periférico para o qual o jogo foi imaginado.

Contudo, eu ainda acho que o melhor é termos a possibilidade de jogarmos da maneira que quisermos e principalmente, pudermos. Quem teve a oportunidade de conhecer o Paper Beast usando um HMD provavelmente defenderá que o jogo só tem graça desta maneira, mas como ele me divertiu tanto mesmo num equipamento “comum”, acredito que tal afirmação não poderia estar mais equivocada.

O zoológico de Chahi

Além da campanha principal que dura cerca de quatro horas, Paper Beast ainda conta com um modo sandbox, onde teremos liberdade para brincar com a física do jogo. Nele poderemos espalhar fauna e flora pelo cenário, com os animais interagindo entre si e a inteligência artificial do jogo sendo um dos maiores destaques.

O outro ponto que merece ser mencionado é a maneira como os elementos se comportam, com a água criando rios conforme a gravidade faz o seu papel e o clima alterando consideravelmente o mapa. Brincar nesta bela caixa de areia pode ser uma experiência tão divertida quanto tentar solucionar os puzzles do modo principal, com o único ponto negativo sendo o fato de que para termos acesso ao modelos será preciso encontrá-los na campanha.

Este sandbox também pode ser uma maneira bacana de ensinarmos um pouco de ecologia às crianças, já que é possível lhes mostrar como funciona uma cadeia alimentar ou como os animais se relacionam com o meio ambiente.

Uma alucinógena (e contemplativa) viajem

Após ser positivamente surpreendido pela qualidade do Paper Beast, a sensação que tive foi de que se teve um título que me fez desejar ter um dispositivo de realidade virtual, foi este aqui. Fico imaginando o quão mais imersiva pode ser esta surreal viajem proposta pelo jogo ao nos isolarmos quase totalmente do mundo real e hoje entendo porque o estúdio francês optou por seguir este caminho.

No entanto, o que tive a oportunidade de experimentar com o Paper Beast — mesmo de uma maneira mais tradicional — foi capaz de me tocou de uma maneira que não poderia esperar. Há algum tempo eu não jogava algo com uma proposta tão bonita quanto a que vi neste título e fico muito satisfeito por ao menos ter tido a oportunidade de vivenciar este momento.

Além disso, Paper Beast serviu para reforçar uma opinião que sempre tive, mas que há alguns anos estava adormecida em algum canto do meu cérebro: Éric Chahi é um gênio!

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.