Eu já devo ter escrito isso um milhão de vezes por aí, mas a verdade é que gosto de acreditar que vivemos a melhor era dos videogames. A facilidade de acesso aos jogos que temos atualmente é algo incrível e isso inclui podermos experimentar (de forma oficial) muitos títulos lançados no passado. Pois um bom exemplo de como devemos comemorar essa acessibilidade atende pelo nome Ray’z Arcade Chronology.
Desenvolvida pelos japoneses do M2, estúdio que se consagrou pelo resgate e emulação precisa de jogos antigos, essa coletânea lançada para Nintendo Switch e PlayStation 4 brilha por nos entregar cinco versões de três shoot ‘em ups lançados na década de 90: RayForce, RayStorm e RayCrisis.
Criado pela Taito e lançado para fliperamas em 1993, RayForce era um “jogo de navinha” com progressão vertical, com o seu grande diferencial sendo o sistema de duplas camadas para os disparos. Isso quer dizer que, ao contrário da maioria dos títulos do gênero, além de termos que nos preocupar com os inimigos que estão no mesmo nível da nossa RVA-818 X-LAY, também teríamos que alvejar aqueles que estão mais abaixo.
Ou seja, nele o jogador poderia usar uma mira para travar em até oito alvos localizados num plano inferior dos cenários, enquanto dá cabo de todas as ameaças que poderão ser atingidas pelos disparos normais. Isso faz com que a ação fique muito mais frenética e bem diferente de tudo o que tínhamos na época.
Dois anos depois foi a vez daquele jogo chegar ao Sega Saturn, onde ficou conhecido no ocidente pelo nome Layer Section. Com aquela versão sendo elogiada por reproduzir bem o que tínhamos nos arcades, ele ajudou a transformar o antigo console da Sega em uma ótima casa para os admiradores de shoot ‘em ups.
Em 1996 foi a vez dos magos da Taito lançarem o RayStorm. Nele tínhamos o retorno da mecânica de duplas camadas e foi no visual que o título recebeu sua maior inovação. Saiam os gráficos 2D e chegava todo o esplendor do 3D. Esse eu tive a oportunidade de jogar no primeiro PlayStation, sendo o jogo responsável por apresentar a franquia para muita gente.
Visualmente ele era muito bonito, passando uma boa sensação de velocidade e com uma quantidade enorme de coisas acontecendo na tela. Outro destaque ia para a possibilidade de escolhermos entre três naves, com seus disparos sendo bastante diferentes entre si.
Já o RayCrisis saiu em 1998, também para fliperamas e servindo como uma prequela para os jogos anteriores. Chegando ao primeiro PlayStation apenas no ano 2000, sob o título RayCrisis: Series Termination, nesta época eu não tinha mais o console e por isso não lembro de ter jogado o desfecho da trilogia.
Por falar nisso, essa é uma série que só marcou mesmo os maiores fãs do gênero, nunca tendo conseguido alcançar o status de alguns gigantes e por mais que eu sempre tenha preferido shoot ‘em ups com progressão horizontal, gostava dessas criações da Taito.
Em RayStorm enfrentaremos ameaças de duas facções: a Earth Federation Force, cujas naves receberam nomes baseados no Império Romano, como Brutus, Remo ou Netuno U-68L2; e a Secilia Federation, cujos nomes vieram de criaturas da mitologia europeia, como Thor, Fafnir ou Black Annis.
Feitas as breves descrições dos jogos presentes no Ray’z Arcade Chronology, preciso falar sobre o que você encontrará nesta compilação. Primeiro, é importante ressaltar que os três jogos estão disponíveis em suas versões originais, uma boa notícia para os puristas ou que adorariam conhecer como os títulos se comportavam quando foram lançados.
Porém, aqueles que preferem uma experiência mais moderna não foram esquecidos, pelo menos não em relação ao RayStatom e RayCrisis. Isso porque, quando se trata dos jogos criados com polígonos, o Ray’z Arcade Chronology traz versões remasterizadas para ambos.
Com elas teremos gráficos bem mais bonitos que os originais, mas não espere toda a qualidade disponível nos jogos atuais. Aqui a ideia era aumentar a resolução, acabar com o serrilhado de antigamente — que na minha opinião, possui seu charme — e entregar gráficos que funcionassem melhor nas TVs modernas. E isso o pessoal do M2 conseguiu alcançar brilhantemente.
Aliás, o trabalho feito pelo estúdio foi novamente muito bom, com os três jogos rodando perfeitamente nos consoles atuais e sem nunca estragar a essência dos clássicos — mesmo em suas versões melhoradas.
Os responsáveis pelo Ray’z Arcade Chronology até tiveram o cuidado de acrescentar uma nova interface nas laterais, tudo para ocupar a tela em sua plenitude. Nela teremos acesso a uma grande quantidade de informações, dos power-up que estivermos utilizando até o nome da música que está sendo tocada, e embora na maior parte do tempo nem consigamos ler o que está sendo mostrado, não deixa de ser um bônus interessante.
A lamentar mesmo, apenas a ausência de um museu onde poderíamos ter acesso a uma jukebox, a artes conceituais e já que não custa sonhar, até mesmo a entrevistas com os desenvolvedores. Também é triste constatar que o R-Gear — jogo que durante algum tempo foi desenvolvido como uma continuação para o RayForce e acabou cancelado — só está disponível para quem adquiriu a coletânea na pré-venda. É apenas um protótipo, bem curto, mas eu gostaria de tê-lo jogado.
Enfim, se você gosta de shoot ‘em ups e está a procura de títulos divertidos, essa é uma coletânea que aposta no simples, mas transborda carinho na sua produção (apesar de algumas ausências). Uma ótima maneira de conhecer ou revistar três ótimos jogos não tão conhecidos.