Quando os consoles e arcades ainda não eram capazes de nos entregar títulos visualmente ultrarrealistas, quem gostava de jogos de corrida tinha que se contentar com experiências mais simples — o que não significa menos divertidas, que fique claro. Clássicos como Top Gear, Lotus Turbo Challenge, Super Hang-On e OutRun marcaram uma geração, até serem atropelados pelo avanço natural da tecnologia.

Slipstream

A impressão era de que esse estilo de jogo sobreviria apenas na memória dos fãs ou através de emuladores, mas a ascensão dos desenvolvedores indies permitiu o resgate de muitos estilos que andavam deixados de lado. E entre esses criadores de jogos estava o brasileiro Sandro Luiz “ansdor” de Paula, um apaixonado pelo lendário jogo de Yu Suzuki e que decidiu usar seu talento para criar uma bela homenagem ao OutRun.

Assim como nos títulos que faziam sucesso nas décadas de 80 e 90, em Slipstream não teremos que nos preocupar em configurar os carros, não será possível passar horas criando as mais variadas pinturas, nem será preciso tirar carteiras de motorista. Aqui o objetivo é correr e isso o jogo faz muito bem.

Proporcionando uma sensação de velocidade impressionante, o título exigirá um alto nível de atenção por parte do jogador, já que qualquer toque em outros carros ou objetos nos cantos das pistas nos fará ficar muito lentos. Para quem não está acostumado com o estilo, esse grau de dificuldade poderá assustar num primeiro momento, mas com um pouco de treino será possível melhorar bastante nosso desempenho.

Algo que ajudará a amenizar a dificuldade é um recurso que nos permite voltar alguns segundos no tempo. Funcionando de maneira parecida com o que temos na franquia Forza, a diferença no Slipstream é que não poderemos acionar o efeito a todo momento, já que ele precisará passar por um período de cooldown até estar disponível novamente.

Já em relação a sua principal fonte de inspiração, a criação de ansdor também faz um forte uso das derrapagens durante as curvas, sendo essencial para conseguirmos nos sair melhor nas corridas. Sendo fácil de executar, mas difícil de dominar, o movimento nos permitirá manter a velocidade durante quase todo tempo e para aqueles que não conseguirem se habituar a ele, felizmente há uma opção de executar o drift automaticamente.

Outro movimento que será imprescindível para vencermos é aquele que dá nome ao jogo. Basicamente, ele funcionará ao ficarmos atrás de outros carros, já que ao pegarmos seus vácuos será preenchida uma barra e assim ganharemos um grande salto de velocidade, como se fosse um turbo.

Ao todo, o jogo nos proporcionará corridas em 20 pistas, com os cenários sendo bastante variados e muito coloridos. Conseguindo passar muito bem a ideia de estarmos jogando algo saído direto dos anos 90, o trabalho realizado na direção artística merece destaque, com os gráficos pixelados contando com muitos detalhes e a engine pseudo-3D garantindo a sensação de profundidade.

Outra boa ideia implementada pelo criador do Slipstream foi a de nos oferecer diversos modos de jogo. Isso ajuda a trazer um ar de variedade, com o título nos dando as seguintes opções:

  • Grand Tour: funciona como uma viagem pelas diversas fases, com uma sucedendo a outra e nos permitindo escolher por qual caminho seguir ao final de cada etapa.
  • Cannonball: modo em que poderemos escolher diversas opções, como a quantidade de tráfego, números de pilotos ou se teremos rivais.
  • Grand Prix: um campeonato dividido em cinco corridas, nos dando prêmios em dinheiro que poderá ser usado para melhorarmos nosso carro.
  • Single Race: aqui teremos apenas uma corrida, com o jogador podendo escolher entre as 20 pistas disponíveis.
  • Time Trial: esqueça os outros carros, pois o objetivo será fazer o menor tempo possível.
  • Battle Royale: uma corrida de resistência, onde o último colocado será eliminado, até que reste apenas o grande vencedor.

Mas apesar dos vários modos que nos manterão entretidos por um bom tempo, senti falta de um maior número de carros para serem pilotados. Com apenas cinco modelos disponíveis, acredito que seria legal podermos desbloquear mais veículos, assim como temos em outro título do gênero e que também foi feito no Brasil, o Horizon Chase Turbo.

Contudo, essa pequena falha não chega a estragar a ótima experiência proporcionada pelo Slipstream, um título que conseguiu me fazer voltar no tempo e lembrar da época em que a única coisa que eu desejava era chegar em casa, ligar meu Mega Drive e tentar chegar o mais longe possível no OutRun.

Naquele jogo, uma das coisas que mais me fascinava era a sua trilha sonora, que até hoje me pego cantarolando durante o dia. É verdade que a trilha do Slipstream não teve o mesmo impacto em mim, mas isso não pode ser visto como um demérito, já que na minha opinião, as faixas compostas por Hiroshi Kawaguchi para aquele clássico estão entre as músicas mais emblemáticas da história dos games.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.