The Falconeer

Eu adoro jogos de combate aéreo. Sempre achei muito legal cortar os céus a bordo de um avião ou nave espacial enquanto admiramos a paisagem lá embaixo e caçamos inimigos ou somos caçados por eles. Pois The Falconeer possui tudo isso, mas neles o que nos levará para os ares será um falcão. Sim, um enorme falcão!

O criador

Num mundo em que superproduções contam com a participação de centenas de pessoas em suas criações, a primeira coisa que chamam atenção em The Falconeer é o fato de que ele foi feito basicamente por apenas uma pessoa. Exceto pela parte sonora, que foi composta por Benedict Nichols, todo o resto ficou sob a responsabilidade de Tomas Salam, um game designer que além de ter sido o cofundador da Little Chicken Game, ganhou alguma notoriedade por ter ter criado os mods Skyrim: Moonpath to Elsweyr.

The Falconeer se passa em Grande Ursee, um mundo coberto por água, onde as pessoas criaram cidades em pequenas ilhas. Enquanto os ricos podem contar com a proteção de poderosas frotas de dirigíveis e falcoeiros, o descontentamento dos pobres faz com que eles se organizem para começar uma revolução. De qual lado você estará nesta disputa? De ambos, mas aquilo que é uma das principais qualidades do jogo, é também um dos seus maiores defeitos.

O problema é que apesar do enredo do game nos dar liberdade ao nos colocar no controle de pessoas pertencentes a diferentes clãs, a ausência de um protagonista faz com que raramente nos importemos com alguém. A ideia de nos submeter à história por diferentes pontos de vista é bacana, mas com ela se desenrolando num ritmo bem lento, é fácil perdermos o interesse pela mitologia que Salam tenta nos entregar, por mais que algumas vezes ela pareça bem interessante e profunda.

Contudo, existe outro detalhe que ajuda a tornar o ritmo do jogo um tanto arrastado, que é o mundo em si. Embora o mapa seja imenso e muito bonito, nos permitindo ir para onde quisermos, durante boa parte do tempo estaremos apenas nos locomovendo de um lugar para o outro, com a exploração sendo pouco incentivada. No caminho você até verá uma ilha distante, passará por uma tempestade e eventualmente se deparará com enormes monstros, mas nada disso chega a empolgar como poderia.

Voar voar, subir subir

Então chegamos aos combates e aqui também temos motivos para criticas. Se por um lado é bacana participar de batalhas que lembram aquelas vistas em jogos de avião ambientados na Segunda Guerra Mundial, por outro é frustrante não demorar para percebermos que falta variedade nos confrontos. Para piorar, se formos derrotados seremos obrigados a reiniciar toda a missão, já que não existe algo como um checkpoint nelas. Some a isso um nível de dificuldade irregular e temos a receita perfeita para irritar o jogador.

Falcoaria

É a arte de criar, treinar e cuidar de falcões e outras aves de rapina para a caça. Pode-se dizer que é uma caça de aves e pequenos quadrúpedes, praticada desde há mais de 6.000 anos com falcões e outras aves que perseguem suas presas persistentemente.

Pois esta curva de dificuldade será ainda mais acentuada no início da campanha, afinal estaremos controlando um falcão fraco e sem entendermos muito bem a mecânica de The Falconeer. Isso melhora consideravelmente após adquirimos uma arma mais poderosa para a nossa ave, já que ela tornará as batalhas mais divertidas. não chega a ser uma mudança da água para o vinho, mas ainda assim ela existe.

Porém, se há digno de elogios nesta área é a maneira como o falcão se comporta. O normal aqui seria que o bicho não passasse de um avião disfarçado, mas o desenvolvedor conseguiu dar bastante personalidade à nossa máquina de guerra, fazendo com que ela realmente pareça uma ave. Do bater das asas à necessidade de dar longos mergulhos para ganharmos velocidade, todos os movimentos são feitos de maneira bastante natural, inclusive enquanto estivermos enfrentando inimigos.

Uma batalha para poucos

Dizer se um jogo como The Falconeer é ou não recomendável não é uma tarefa simples. Embora seja preciso levar em consideração o fato dele ser o trabalho de uma pessoa, fico me perguntando se isso deve servir como atenuante para as suas falhas. No fundo, trata-se de um jogo que parece não ter alma e que com um pouco mais tempo de desenvolvimento poderia ter nos proposto uma experiência muito mais divertida e elaborada.

Eu até cheguei a pensar que o melhor teria sido Tomas Salam ter optado por uma jogabilidade mais simples e direta, algo nos moldes de um Panzer Dragoon, que fosse dividido por fases e sem toda a liberdade, além de um enredo mais enxuto. Porém, se tivesse seguido por este caminho, fatalmente o game designer seria acusado de falta de originalidade, o que definitivamente não é o caso com o título que eles conseguiu nos entregar.

Se você gosta muito de jogos de combates aéreos, está disposto a refazer certas missões algumas vezes e não liga em receber a história em conta-gotas, poderá encontrar alguma diversão em The Falconeer.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.