Exceto pela distribuição digital, acredito que nada foi mais impactante para os videogames do que a ascensão das desenvolvedoras independentes. Foram elas as responsáveis por resgatar a originalidade (e ousadia) do passado, além de nos dar acesso a gêneros que por muitos anos permaneceram dormentes e se não for fosse pelo espaço que essas empresas conquistaram, provavelmente nunca teríamos algo como o Wild Dogs.

Wild Dogs

Criado pelos brasileiros da 2ndBoss, a maneira mais fácil de descrever o Wild Dogs é como uma viagem ao passado. Assim que iniciamos o jogo, a sensação é de estarmos jogando algo lançado para o Game Boy, graças ao estilo monocromático dos seus gráficos. O interessante é que o enredo dá uma boa explicação para isso e basta apertarmos um botão para alternar entre várias paletas de cores.

Porém, não está apenas na parte visual o DNA retrô do Wild Dogs. Para quem cresceu nas décadas de 80 ou 90, jogos do estilo run and gun faziam parte do dia a dia, onde o alto grau de dificuldade e a exigência de habilidade e reflexos rápidos sendo fundamentais para conseguirmos progredir.

E de todos os representantes do gênero, nenhum é mais emblemático que a série Contra e o título do pessoal da 2ndBoss não possui o menor receio de escancarar sua influência. Da progressão lateral onde os inimigos surgem incessantemente por todos os lados, até o confronto com chefes enormes, tudo faz parecer que estamos encarando um novo capítulo da lendária série da Konami.

Até mesmo o sistema de armas remete diretamente ao fantástico Contra III: The Alien Wars. Ou seja, aqui também poderemos carregar conosco duas armas, podendo alternar entre elas a qualquer momento. Além disso, no caso de sermos abatidos perderemos o disparo que estiver equipado, fazendo com que seja preciso calcular o risco ao estarmos utilizando um tipo de arma que mais gostamos.

E as semelhanças não param por aí. Em Wild Dogs também teremos a possibilidade de nos movermos com a mira estando travada numa direção, bastando apertar um botão para isso e o pulo duplo ajudará muito a escaparmos de situações críticas. Até mesmo as armas são típicas de um Contra: mísseis teleguiados, lança-chamas, disparos espalhados como de uma escopeta, etc.

Uma nova invasão

Wild Dogs

E caso você esteja se perguntando o que colocará o protagonista para encarar a ideia de “exército de um homem só”, não fique surpreso se eu disser que novamente são os alienígenas. A diferença é que aqui o sujeito responsável por salvar o mundo não estará sozinho. Conhecido como Major Frank “Pumpkinhead” Williams, nosso herói será acompanhado pelo seu fiel escudeiro, um labrador chamado Teddy.

Confesso que num primeiro momento imaginei que o cachorro funcionaria como aquele que nos acompanha em outro clássico, o Shadow Dancer. Porém, apesar de o nosso companheiro não partir para o ataque como fazia Yamato, ele terá um papel até mais importante na aventura, já que poderá se esgueirar por lugares em que o humano não pode ir.

O detalhe é que durante boa parte do tempo em que estivermos no controle de Teddy ele estará vulnerável, cabendo ao jogador apenas evitar ser atingido. Este cenário mudará em partes específicas, como naquela em que o cachorro poderá entrar em um mech.

Aliás, uma bela sacada por parte dos desenvolvedores foi incluir vários momentos em que controlaremos os mais variados veículos. De motocicletas a helicópteros, isso traz uma muito bem-vinda variedade à jogabilidade do Wild Dogs, passando a impressão de que temos vários jogos numa mesma aventura.

Também merece destaque os chefes, que aparecem constantemente e apresentam estilos bastante variados. Como acostuma acontecer em jogos assim, os padrões de ataques desses inimigos poderão ser decorados e a partir do momento em conseguirmos isso, tais batalhas se tornarão bem mais fáceis.

Por falar em dificuldade, no início poderemos achar que o Wild Dogs não faz jus aos clássicos do passado, mas conforme avançarmos pelas fases ficará claro que os criadores não aliviaram. Inicialmente essa dificuldade era aumentada pelo fato de termos que recomeçar as fases ao perder todas as vidas, mas felizmente a 2ndBoss implementou um sistema de continues, o que eliminou a necessidade de precisarmos encarar tudo de novo.

Servindo como uma bela homenagem a uma das séries mais fantásticas da história, Wild Dogs pode até pecar pela falta de originalidade, mas é extremamente divertido, desafiador, entrega uma belíssima pixelart e acima de tudo, conta com um padrão de qualidade acima da média. É um jogo para nos fazer recordar da época em que passávamos a tarde na companhia de amigos aproveitando aquele cartucho que por tanto tempo esperamos poder alugar, comendo besteiras e dando risada uns dos outros. Seu único defeito mesmo é não contar com um modo multiplayer, mas quem sabe isso não será resolvido numa futura atualização?

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.